Adiciona-nos no MSN e sabe mais em primeira mão!!

kamedo@live.com.pt

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Para além da morte

A casa de frente finalmente ia ser habitada. Era uma casa grande quase o dobro da de Sérgio. Ainda se lembra da sua pintura branca que estava agora escondida atrás do musgo e das heras que também cobriam toda a casa, folhas castanhas, secas, cobriam o jardim da frente. Ervas daninhas povoavam o jardim por toda a parte. Há cerca de três dias que a placa “vende-se” foi tirada pelo homem da imobiliária, mas só agora é que as carrinhas das mudanças começavam a trazer as coisas dos novos moradores… Desde que a velha D. Lurdes morreu que ninguém lá morava, e isso, parece que já foi há séculos.

Ainda não se viu ninguém, para alem dos senhores homens das mudanças que não param de trazer tralha, alguém já pôs cortinas, são esquisitas, todas pretas com bordados.

Finalmente alguém, Sérgio poderia finalmente ver quem eram afinal, as pessoas que iam habitar aquela casa, uma rapariga apenas, um pouco mais velha que ele, deveria estar com 20 anos, muito bonita mas pouco risonha, vestida de preto, fazia sobressair a sua pele branca como a de um anjo:
- Que boa! Exclamou Sérgio.
O cabelo dela igualmente negro brilhava aproveitando o pouco sol que havia. Sérgio ficou fascinado.
Durante a noite parece que o nevoeiro apenas rodeia aquela casa, tentando ocultar algo.

Hoje por uma abertura na cortina daquela casa, Sérgio consegue vê-la ao piano. Que linda melodia, não e bem o género de musica que ele costumava ouvir mas começou a gostar a medida que a ouvia tocar.
No dia seguinte, segunda-feira, ela tinha sido inscrita na escola onde ele andava, e por isso foi nesse dia.
Durante uma aula de educação física, ele observa-a durante os exercícios e deixa de prestar atenção à aula dele. Daquele sítio, ele consegue perceber que ela não se tinha adaptado e mantinha-se afastada dos outros alunos, não sendo mesmo escolhida por nenhuma equipa para o jogo de futebol.
No intervalo, ela abstinha-se do mundo encolhendo-se num canto do polivalente…
Começa a chover, ela de imediato levanta-se e sai disparada pela porta e vai para o meio do pátio, abre os braços e olha para o céu e recebe a chuva desfrutando-a, depois fecha os olhos e concentra-se nas pingas. Umas percorrem-lhe a cara, e outras brincam escorregando pelos caracóis do seu cabelo. Lá dentro Sérgio olha pela janela, e como ele toda a gente que lá estava:
- Parece maluca. – Diz um rapaz,
- Parece não… É! Toda vestida de preto parece uma bruxa, não fala com ninguém, nem sequer se dá connosco. – Diz uma rapariga.
- Talvez nos não lhe tenhamos dado as boas vindas da maneira certa. – Diz Sérgio saindo do recinto em direcção a ela.
- Tão puro – Diz – será que há algo mais puro que a água?
- Nada e puro. – Diz ela – Basta o homem descobrir-lhe os segredos e fraquezas que toda a pureza se esbate. Agora já não se vê chuva como dantes, agora contentemo-nos com estas chuvas ácidas. O fogo que no início servia para aquecer, cozinhar e defender as famílias, virou arma de guerra assim que o homem lhe perdeu o respeito agora serve para destruir…
As palavras dela arrepiam-no, mas ele sabe que ela está certa e o seu interesse aumenta, agora ele a tinha a certeza que ela também era inteligente.
- O meu nome é Sérgio!
- Olá, eu sou a Tânia.
- Se calhar não sabes mas somos vizinhos, eu moro mesmo à tua frente. Tenho-te ouvido tocar piano, adoro.
- Obrigado…
Nisto a campainha toca para entrarem:
- Vamos para as salas de tortura outra vez. – Diz ela sorrindo.
- Também tem sentido de humor? – Pensou ele – o que mais lhe falta para ser perfeita?
Agora na sala ele não a podia ver mas, mas ainda assim a sua imaginação voava, e ele, passava horas a falar e conviver com ela nesses “sonhos”.
Quando soa o sinal de saída ele já a espera no portão…
- Vamos?
- Ok – Diz ela.
Na rua, em direcção as suas casas falaram, falaram de tudo, alguns gostos não coincidiam, mas isso pouco importava, afinal não podemos todos gostar do mesmo clube. Ele sentia-se bem com ela, o tempo passava depressa, quase depressa de mais, por isso sabia-lhe a pouco todos os segundos que estavam frente a frente, e ele queria uma eternidade só para lhe dedicar total especial atenção.
Durante o jantar, a mãe comentava:
- Não sei porquê mas aquela casa assusta-me, desde que foram para la estes novos residentes que ando com medo só de pensar que eles estão mesmo ali à nossa frente.
- Sim realmente é um bocado esquisito. Hehehe – Diz o seu pai.
- Vocês é que não são normais! Não falem de coisas que não sabem. Que mania das pessoas falarem das pessoas sem as conhecerem. – Diz Sérgio exaltado.
- Desculpa filho mas estava só a comentar… Não precisas de ficar assim.
Eu fico assim por causa das pessoas como vocês…
Sérgio levantou-se e saiu atirando o guardanapo que estava no seu colo para cima da mesa, e dirigiu-se apressado para o seu quarto.
Assim que chega, fecha a porta, aproxima-se da janela e vê a sombra de Tânia reflectida na cortina do seu quarto por a luz estar acesa, de repente essa luz apaga-se e poucos segundos depois ele viu-a a sair de casa em direcção da sua. O seu corpo estremece e a sua mente bloqueia.
Ouve a campainha tocar, corre para o espelho arranja o cabelo e põe mais um bocado de perfume.
- Sérgio vem à porta!
Ele desce as escadas um bocado mais calmo, mas o seu coração ainda bate acelerado;
- Olá! Entra…
- Não obrigada, anda comigo, quero mostrar-te uma coisa.
Saem, partem para onde só ela sabia. Chagaram ao cume de um monte fora dos subúrbios, tinham andado bastante e estavam cansados;
- Olha para traz. – Diz ela sorrindo.
- Uau!! – Suspira espantado quando vê uma enorme lua branca sobre a cidade – Nunca tinha visto a lua assim tão bonita.
- Este foi o melhor sítio que encontrei ara adorar a lua assim que me mudei para cá… Sabes que a Lua apesar de ser o astro mais perto da Terra mas está a 380 000 km de nós? E que uma viagem até lá demora cerca de 4 dias?
- Não…
Então eles passaram algum tempo a falar… Nisto, ele olha para o relógio:
- Já e tão tarde, a minha mãe vai-me matar.
Quando chega a casa a mãe esta furiosa à espera dele e, apesar das desculpas, ele não se livra de uma “descasca”:
- Achas que são horas de chegar a casa?
- Desculpa mãe, estive a falar com a Tânia ate agora…
- Quem e a Tânia?
- E a vizinha, ela anda na escola comigo, e fomos dar uma volta…
- Ela e velha de mais para ser tua amiga, deve estar cheia de maus hábitos. Tu não passas de uma criança… Não quero que a vejas mais…
Sérgio corre para o quarto furioso;
- Porque é que as pessoas tem essa mentalidade? Afinal só eram apenas 3 anos de diferença…. Se ela tivesse 30 ele teria 27… Ele sabia que se estava a apaixonar por ela e o amor não tem barreiras, ultrapassa tudo, etnia, cor, credo, religião, idade, sexo… Mas ainda há pessoas que pensam de maneira diferente…
Nessa noite nem conseguiu dormir direito…
Na manha seguinte ele vai para a escola, sem tomar o pequeno-almoço apesar de ser chamado pela mãe…
Na escola encontra-se com ela, voltam a acontecer aqueles momentos, ela era muito “pés na terra” e talvez por isso, ele não teria vontade de discutir tudo afincadamente como até a data fazia com os demais que tivessem ideias diferentes da dele.


Vários meses depois, a relação corria lindamente, até que a certa altura na conversa, ela com uma pose seria diz-lhe:
- Tenho uma coisa muito seria para te contar…
- Eu também. Nem sei como hei-de começar…
- Mas com certeza que a minha e mais importante, podes crer!
- Não sei não! – Insiste ele – a minha mãe não que nós nos voltemos a ver…
- Pois… Mas isto acredita e mais importante, e não e uma coisa que não se ouve todos os dias… – Diz ela como se a noticia dele fosse irrelevante – Espero que não entres em pânico… Mas eu vivo para lá da morte…
Sérgio pensou que ela estava a brincar e sorridente disse:
- És uma Zombie?
- Não! Sou mais um fantasma por assim dizer… Eu voltei a viver depois da minha morte clínica, ressuscitei no fundo…
- Tas a brincar?
Tânia pega na mão dele e encosta-a no peito a fim de sentir a ausência de batimento cardíaco… Nada… Sérgio fica sem reacção…
- Como é que pode ser?
- Tudo isto por causa de um amor impossível, ele prometeu-me tudo, este mundo e o outro, quando íamos fugir de casa ele não apareceu, e eu com desgosto atirei-me duma barragem… Mas voltei em busca do meu verdadeiro amor… E acho que és tu!! Acho que e contigo que quero passar toda a eternidade.
Sérgio fica com um misto de sensações… Orgulho por saber do amor dela, de medo por não saber se deveria de fugir ou de desmaiar e de felicidade pois agora sabia que o seu sentimento por ela era mutuo e correspondido… Porém beija-a.
Nisto a mãe de Sérgio passa pela escola e vê o que tinha proibido… Pára o carro e berra:
- Sérgio, o que foi que eu te disse? Já aqui temos que conversar...
Sérgio avença em direcção à mãe, os colegas estupefactos olham “colados” para ele, alguns até riem.
Nessa noite Tânia ouve a campainha a tocar, e quando abre a porta vê Sérgio que tinha a cara lavada em lágrimas:
- O que foi amor? – Diz preocupada.
- Eu e a minha mãe tivemos uma grande discussão, não volto para casa, quero estar sempre contigo.
Ela abraça-o tanto quanto podia e acolhe-o em sua casa. Na sala ainda agarrado a ela, Sérgio jura-lhe amor eterno, e que nunca há-de libertar uma lágrima nunca mais, nem nunca a ia fazer passar pelo mesmo, pois quando não estava perto dela sentia a sua vida separada. Ela diz-lhe o que precisava de fazer para serem um só.
- Precisas de te libertar da vida terrestre e abraçar a ultravida…
- Mas como e que sei que vamos ficar juntos?
- Saberás! Mas só podes fazer isto se realmente quiseres e estiveres certo e convicto da tua vontade, lembra-te que não voltaras a traz…
- Sim e isso que quero. – Nisto ela abraça-o e beijam-se.
O coração de Sérgio pára, os dois desapareça para o além, onde finalmente podem viver o seu amor sem oposições…



Assim viveram felizes, para lá do “sempre”…