Adiciona-nos no MSN e sabe mais em primeira mão!!

kamedo@live.com.pt

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Rest In Peace

Todos os dias chorava, as lágrimas dela quase evaporavam com o calor, quando passavam nas nódoas negras e no vermelhão que ela tinha na sua face, resultado de toda a porra que ela era vítima.
- No mi amor, por favor no grites, que los vecinos duermen. – Pedia ela a soluçar – Estoy cansa y no puedo más.
Aquelas feridas parecem não ter fim, é uma dor bastante real, dificilmente o tempo as ira apagar. Quando ele precisou, ela segurou-lhe a mão para ele não voltar a cair quando ninguém o fez, e ainda o continuava a fazer, apesar de ele estar sempre a “cair”. Bebedeiras constantes, porrada diária, violência psicológica, ela aguentava aquilo tudo.
- ¿Cómo puede tratarme así? – Pensava ela.
Ela esperava conseguir vontade para lhe dizer “boa sorte” e seguir o seu caminho, ou apenas desaparecer sem sequer lhe dizer adeus tratando-o como o cão que era. Mas não conseguia, por muito que quisesse seguir a sua vida em paz e dignidade, simplesmente não conseguia. Ela ainda está à espera que ele lhe fizesse o que prometera no dia do seu casamento, e até mesmo antes dele.
O casamento foi a sua sentença de morte, um pacto com o Diabo.
Ele nunca tinha sido assim, não bebia, não a traía, nem sequer lhe pensava em bater.
Um dia ela chegou a casa depois de mais um dia de trabalho árduo, e pelo aspecto caótico da sala, era óbvio que ele estava lá.
Avança em direcção a casa de banho de onde surgem uns barulhos, e depara-se com ele desfalecido no chão mergulhado numa grande poça de vómito em constantes convulsões. Seria finalmente a oportunidade com que tanto esperava?
Podia sentar-se e apenas vê-lo sofrer até ter o que merecia, ou simplesmente voltar atrás, sair de casa e voltar mais tarde para já o encontrar sem vida, e então aí telefonar aos bombeiros e à polícia para participar o sucedido. Afinal ele tinha-a maltratado durante toda a relação em matrimónio, sem que ela algo fizesse para que isso tivesse razão de acontecer.
Quantas vezes se questionou ela:
- ¿Qué daño he hecho? ¿Qué hice mal?
Mas a culpa era dele, e ela lá no fundo sabia, não queria era aceitar, afinal quem mudou foi ele, ele, algumas semanas do casamento, deixou de ser o homem que tinha sido até então. Não era mais o homem que outrora prometia o céu e a terra, a lua e as estrelas, a paz o amor e a alegria eterna. Com ele, ela seria feliz para sempre, e iam ser um exemplo para todos os outros casais…
Ao vê-lo ali, naquela agonia, sentia que o dia de ontem já ia longe, e as marcas ainda frescas da fivela do cinto dele nas suas costas já não lhe doíam, e no meio daquele silêncio “ensurdecedor”, apenas interrompido pelo barulho dele a vomitar, ela sentia que finalmente a justiça estaria a ser feita a seu favor. Era um imenso prazer, todo o seu corpo se encheu de alegria, mas segundos depois ela começou a sentir que aquilo era pouco comparado ao que ela passou. Então, nesse momento baixa-se e tira um lenço de papel do bolso com toda a calma do mundo, e põe-lhe a mão na cara, levanta-lhe a cabeça e limpa-lhe o queixo e a boca que durante até ai esteve a espumar descontroladamente e aproximando-se do seu ouvido diz-lhe:
- Todo el mal del mundo es muy poco para ti, hijo de puta.
Nesse instante larga-lhe a cabeça que estoura violentamente contra o chão, fazendo chapinar vómito para as suas botas de couro que a mãe lhe tinha dado no natal passado, e retira-se, pegando na sua carteira, e pondo a trela ao cão para o ir passear.



Esta é a minha última publicação, a partir de hoje deixo de fazer parte dos autores do KA MEDO. Foi uma experiência que me vai acompanhar e marcar par o resto da vida. Eu cheguei à conclusão que não tenho muito mais para dar ao blogue, e por isso o motivo do meu afastamento. Quando em Dezembro de 2007 fundei o KA MEDO, tinha em mente um projecto de apenas um ano, um ano de publicações de textos sobre tudo o que metia medo, durante o ano fui recrutando pessoas que queriam fazer parte do projecto e mantê-lo vivo apesar das mortes, e por isso “missão cumprida”. Em Dezembro de 2008 abandonei, como previsto o blogue, mas devido ás insistências fui ficando para ajudar a reerguer o KAMEDO e fazê-lo mais apelativo, mas agora acho que chegou a hora de abandonar de vez o navio, e seguir a minha outra vida. É fácil falar de morte num blogue que não fala de outra coisa, por isso agora junto-me as personagens que por aqui passaram, algumas criadas por mim, e vou desaparecer também.


Neste último texto jaz Gr8Shag! R.I.P.

Foi um prazer!

1 Sustos:

Inês disse...

Como actual 'manda-chuva' cá do sítio, desejo-te uma boa viagem para onde quer que vás. Sabes que és sempre mais que bem vindo ao KaMedo (se anunciares que vens cá até estendemos uma passadeira vermelha!!).

Apesar de 'morto' continuas na família, e ainda há algumas coisas onde vais ser muito falado... Surpresas para o futuro ;)

Enfim, como 'manda-chuva' desejo-te as maiores felicidades.
Como espírito do KaMedo, "Que a Morte te acompanhe".
Como amiga... opá, falamos no MSN, okay? :D E ainda temos "a" Marta :D

Por fim, e citando-te, "Rest In Peace".